Tradição Eclesiástica e Leitura Bíblica. Uma Mistura perigosa.
A leitura bíblica se dá no espaço de um contexto real. Embora cada igreja faça uma “leitura oficial”, todos temos uma bíblia em mãos e compartilhamos da livre vontade de lê-la ou não, podendo assim proferir uma sentença sobre o que realmente e de fato entendemos. Todos os que possuem da livre vontade de lê-la são também intérpretes, sendo intérpretes, mas nem sempre expositores.
Isso se identifica em um problema gerado pela absolutização do discurso referente aos princípios de fé baseado no livro sagrado: bíblia; que na melhor das hipóteses é considerada a palavra de Deus e na pior que somente as contém.
A famosa e controversa reforma protestante deixou um legado contemplativo em alguns aspectos e desprezíveis em outros. O desejo de Lutero em traduzir a bíblia para sua língua é louvável, isso firma coerência com sua forma de pensar sobre o “sacerdócio universal de todos os crentes”.
O problema é identificado no âmbito das idéias que nunca foram praticadas, tais como o sacerdócio de todos os crentes. A idéia de que todos, e não somente os pastores, bispos, denominações, contém capacidade suficiente para interpretar a bíblia é somente mais um ideal protestante cada vez mais impossível de ser contemplado. Uma vez que dentro da igreja ainda existe uma hierarquia, em que somente alguns são portadores da palavra e outros somente ouvintes, praticando assim um monólogo chamado sermão ao auditório, igreja. Somos obrigados a nos calar e concordar com uma interpretação tendenciosa das escrituras para então fazermos parte do grupo, senão estamos fora.
O problema hermenêutico não é o que cada um interpreta, mas o que fazem cada um interpretar.
Existe dentro das denominações cristãs uma forma tendenciosa de ler o texto bíblico, colocando sempre a tradição acima de qualquer outra coisa, abafando o conhecimento de cada um e promovendo assim uma ditadura no âmbito das idéias a serem pensadas sobre o texto sagrado.
A igreja impõe o que o leitor deve pensar. O indivíduo que se propõe a interpretar o texto bíblico depara-se não com o que de fato está escrito, mas sim com o que suas experiências pessoais e seu contexto de vida lhe permitem conhecer e entender. O intérprete é limitado, mas de forma gradual vai rompendo limites e começa, então, enxergar o texto sem os óculos de sua própria tradição, surgindo dúvidas, que comprometem, na maioria dos casos, não o texto bíblico, mas sua própria tradição.
A didática de Jesus não era a de resposta pronta, mas a de perguntas e dúvidas sobre as diversas situações e questionamentos, valorizava mais as dúvidas do que as certezas, produzindo um interesse dentro do indivíduo questionado pela resposta que não estava nEle, mas em si mesmo, ou seja, o indivíduo tinha capacidade suficiente para encontrar a resposta a sua dúvida, não necessitando assim de intermediários como pastores, denominações, tradições e outros. Respostas prontas não geram dúvidas, e certezas não geram interesse. Isso talvez explique o fenômeno da falta de interesse pela leitura bíblica (na maioria dos casos não existe interesse por leitura alguma).
Hoje expressar opiniões é algo tão comum quanto respirar, nesse universo de opiniões somos informados pela igreja que não podemos nos expressar, e nem precisamos praticar tal exercício, pois, eles já ditaram tudo e precisamos somente obedecer cegamente todos os seus expressivos mandamentos, que parecem mais obstáculos do que facilitadores para entrar no Reino de Deus.
A leitura bíblica, tão recomendada, ao meu ver, se tornou um perigo para o evangelho. Uma vez que não lemos e procuramos entender o texto em seu contexto, mas no nosso. Ou seja, acrescentamos ao texto sagrado a nossa tradição, preconceitos e fazemos dele nossos pretextos. A Interpretação do texto sagrado, assim, se torna relativo, dependendo do contexto cultural, histórico e eclesiástico do intérprete. A tradição é um perigo para o cristão, que sem saber, não entende o que lê.
update: 16/01/2010 Hr. 02:17