Em um mundo em constantes transformações, todos estão em busca de novos caminhos, a igreja, porém...

Em Atos, do capítulo 10 ao 15, Lucas relata o processo de uma igreja que muda seu rosto, que passa de mera seita do judaísmo e assume sua posição frente aos desafios de sua época. É o relato de uma igreja que vai em frente e aceita desafios novos com discernimento e aproveita novas oportunidades de fazer o Reino de Deus crescer. O modelo no qual fundamentaremos nossa busca é este: a confrontação da igreja primitiva em seu encontro com o outro – os gentios. A confrontação começa no em Atos 10, em que Pedro é dirigido pelo Espírito Santo a testemunhar diante de Cornélio, um gentio que buscava a Deus. Enquanto isso acontecia, Pedro passou por uma mudança inquietadora no modo como via os gentios. A etapa seguinte trouxe mudança em um paradigma corporativo, à medida que grupos de cristãos judeus anônimos passaram a testemunhar a amigos gentios. A conseqüência disso foi o surgimento de uma igreja em Antioquia formada por judeus e gentios que se reuniam (At 11-13): isso precipitou uma crise, e convocou-se um concilio eclesiástico para definir o relacionamento entre os judeus e aqueles Outros. A decisão foi que os gentios não eram Outros, mas cristãos, exatamente como os cristãos judeus.

A igreja no século XXI tem novos desafios, um novo rosto, uma nova identidade, assim como em todos as eras da igreja. A globalização coloca a igreja frente a um desafio parecido com o do primeiro século da igreja: O de Renovação.

“O lado econômico da globalização acentuou as disparidades sociais no mundo. Por um lado, gerou uma riqueza e conforto sem precedente... Por outro, os cenários indicam que uma proporção maior de pessoas está sendo levada a formas extremas de pobreza1”.

Não tenho dados, mas sem muito esforço qualquer um pode notar o enorme enriquecimento de nossas “mega-igrejas”. E qual o significado disso pra população? Como pode haver tanto luxo dentro dos templos se a maioria dos membros são pobres? Creio que esse é o novo caminho da igreja no século XXI: Assumir um novo horizonte para sua ação missionária: a pobreza. Quem é o gentio hoje se não aqueles que são excluídos pela cultura da globalização? Essas mega-igrejas às vezes se comportam como um bizarro grupo guerrilheiro. Imagine um destes grupos, cujo objetivo seja o de agregar as suas fileiras o maior número de cidadãos do país e, depois de muito esforço, consegue agregar 50% da população. Entretanto, como esse era todo seu objetivo, este continuando com a maioria da nação não está no poder. Isto é, tem a maioria das pessoas, mas não mudou nada. A igreja que fecha os olhos para a realidade da pobreza comporta-se assim. Quer agregar a maioria nos templos, mas não influencia na forma de viver das pessoas, e em seu redor cresce a pobreza e a miséria. Essa é uma igreja que não escuta o clamor dos oprimidos, não sente o vento do Espírito e não sente no coração a miséria dos pobres excluídos.

2 Escobar. 2001.

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