O capitalismo fantasiou-se de teologia e invadiu a igreja.
A doutrina do dízimo ensinada em praticamente todas as igrejas hoje se converteu num sistema capitalista parecido com um fundo de investimento: ações.
De forma prática, funciona mais ou menos assim: como não tem jeito de entregar diretamente a Deus, o crente/cliente deposita seus dízimos e ofertas em um fundo de investimento espiritual - a igreja. Com isso ele pode obter as bênçãos de Deus, os mais ousados ainda dizem que será reposto tudo em dobro.A Igreja está semelhante a clubes sociais. Daqueles que tem que pagar mensalmente para poder participar. Pagando a mensalidade (o dízimo), algumas pessoas acreditam que se tornam donos das bênçãos. Pior é que tem pastor pregando, até na TV, que essa é uma verdade bíblica, usando (distorcendo, na verdade) versículos isolados para provar tal absurdo.
O que se tem ouvido por aí é que por meio do dizimo é testada a fidelidade do crente/cliente (se preferir sócio), e a todo o instante ele é levado e desafiado a testar Deus: Se for dado o dízimo, certamente o crente/cliente será abençoado com exatamente aquilo que deseja. Deus não tem mais escolha, o cliente pagou agora tem que levar. Até parece que Deus ao invés de abrir uma igreja, abriu uma empresa para comercializar seus produtos: As bênçãos. E mais interessante, é que não se trata mais de bênção espiritual. Agora, dizem, Deus dá é carro importado, casa própria, tira a empresa do fundo do poço e cura doenças sem precisar usar remédio, basta exercitar a fé doando seus bens.
A chamada Teologia da Prosperidade ou Prosperidade Biblica1, como alguns chamam, diz que, se são seguidos alguns princípios, que segundo eles, são bíblicos, o cliente será próspero. Aplicam métodos de administração e transformam o testemunho em propaganda, a fim de conseguir novos adeptos para contribuir em suas igrejas.
Será que é por coincidência que esse tipo de pensamento parece muito com o do capitalismo, onde ter torna-se muito mais importante do que Ser?
Em nome da prosperidade financeira, o sonho americano, sacrifica-se até mesmo a palavra de Deus, justamente o contrário do que a ela ensina. Como Lucas relata quando um jovem rico foi até Jesus buscando resposta do que fazer para herdar a vida eterna. Jesus lhe diz pra ir e vender tudo o que tem e dar aos pobres e seguí-lo. O jovem não aceita a proposta e sai triste, e Jesus acrescenta: “Como é difícil aos ricos entrar no Reino de Deus!”.Não é meu interesse nesse texto refutar teologicamente a "Teologia da Prosperidade" e muito menos a doutrina do dízimo. Mas o que se tem ensinado dentro da maioria das igrejas não é a proposta bíblica que Jesus fazia a pessoas que desejavam segui-lo, mas sim a proposta de um sistema capitalista.
Notas
1Surgiu nos estados unidos nas décadas de 60 e 70, pregando o direito do cristão a plena saúde e riqueza, colocando pobreza e enfermidade como subprodutos da falta de fé. Essa ‘teologia’ chega ao Brasil só na década de 80. O atraso se deu ao “período das trevas” que se abateu sobre o País, por conta do Golpe Militar que instituiu a ditadura e medo inibidor pela pesquisa.