O capitalismo deu para a sociedade um idioma que é, particularmente, adequado às transações empresariais, mas terrivelmente pobre para descrever o valor da experiência da conversão ao evangelho. A igreja precisa redescobrir a linguagem não numérica do evangelho. O evangelicalismo floresceu predominantemente dentro das sociedades ocidental e norte-americana durante os últimos dois séculos. O seu florescimento coincide com o desenvolvimento do capitalismo do livre-mercado, que é agora a força matriz e a essência da globalização.

É quase que normal, hoje, estabelecer dentro de nossas igrejas metas para o ano.”Esse ano queremos alcançar 10% da população de Belo Horizonte¹”. Não é mais pessoa “B” ou pessoa “A”, são números. A esse enfoque quantitativo, que Samuel Escobar chama de missiológico gerencial, aplicam metas e métodos em cima de pesquisas estatísticas. Usando conceitos tais como “‘grupos de pessoas’, ‘povos não alcançados’, ‘ janela 10/40’, ‘adote um povo’, e ‘espíritos territoriais’ expressam Tanto um sentido forte de urgência e um esforço para usar cada instrumento disponível para fazer a tarefa possível. Um caminho para conseguir a gerenciabilidade é precisamente reduzir a realidade a uma figura inteligivel²”, estatísticas, e então projetar a ação missionária para alcançar o objetivo pré-estabelecido, como resposta ao problema, descrito de forma simplesmente quantitativa.

Homens como Donald McGravan crêem que ganhar muitos para a vida cristã é o principal conceito de todos os cristãos, e o objetivo da missão da igreja. É claramente uma tentativa de reduzir a missão da igreja ao crescimento numérico. Esse enfoque quantitativo coloca em jogo o próprio significado do evangelho. Nessa perspectiva numérica da missão o planejamento da evangelização do mundo torna-se um problema de cálculos matemáticos: o que interessa é produzir mais cristãos, ao menor custo possível, no menor tempo, e, para isso, conta-se com a ajuda dos computadores. Sempre que encontro com amigos de outras igrejas, a pergunta é sempre a mesma: quantas pessoas têm na sua igreja? Por muitas vezes fiquei constrangido, porque parece que todo mundo resolveu pensar que o “sucesso eclesiástico” se mede pela quantidade de membros que uma igreja tem. Lamentável... O pastor da Comunidade Cristã Grito de Alerta costuma a responder a pergunta dessa forma: - Quantos eu não sei. Sei que somos amigos”. Tem algo mais valioso do que a amizade?. Tem coisas que só a experiência de vida cristã pode oferecer, e uma abordagem quantitativa não tem capacidade de demonstra-la.

Deixe com Deus o crescimento, pois é Ele quem o dá³, cabe a igreja cuidar do “rebanho” de Jesus, ou seja, pastorear suas “ovelhas”. O enfoque da igreja sobre as pessoas tem que ser integral. O ser humano como um todo.

*** ¹Marcio Valadão na igreja Batista da Lagoinha pregando que essa era a meta para o ano de 2006. Até hoje não conseguiram... ²Samuel Escobar. P. 155. Missiologia Global. ³At. 13. 48.

3 comentários:

Ótima reflexão. Parabéns.

Gutierres Siqueira
www.teologiapentecostal.blogspot.com

Muito Obrigado, Gutierres.

Se Jesus se preocupasse com toda essa mídia, com os números, não pediria para aquele que tinham acabado de receber milagres ficarem calados, não contar pra ninguém.
Vai entender esse cristianismo... ngm lê o que Jesus fez não?