“Com a globalização, nada, absolutamente nada, fica fora da competição global, e tudo, absolutamente tudo, vira mercadoria”.
Com a globalização o mundo se torna um grande supermercado de religiões. Como tudo vira mercadoria barata, surge a competição entre as religiões e igrejas. A religião se torna um produto, como um outro qualquer que se escolhe no supermercado, e que qualquer um pode adquirir, a qualquer momento com direito a diversidade e a preço de banana!
Para não perder o mercado é preciso ser criativo. É preciso inovar. “Para atrair”, como nos lembra Gedeon Alencar, “50, 200 ou 800 mil pessoas, só mesmo a ‘aeróbica de Jesus’, celebrada pelo padre Marcelo Rossi. Afinal, uma celebração com leitura de texto, pregação expositiva e hermenêutica apurada cansa, e poucos estão interessados1”.
Nas seções “protestantes”, se encontra uma diversidade muito grande. Batista, Presbiteriana, Metodista, Luterana, e muito mais... Na seção “teologia”, se encontra liberais, conservadores, fundamentalistas, evangelicais, ortodoxos,neo-ortodoxos, pentecostais e outros.
O desafio de cada igreja e qualquer religião é de fidelizar o cliente, se preferir pode chamar de crente. O que está cada vez mais difícil!
O número de “migrantes eclesiásticos” tem aumentado a cada dia2. Os clientes são exigentes, não querem ouvir certas pregações, deixar de fazer certas coisas e se misturar com certas pessoas. Então, se você é da igreja Assembléia de Deus, mas quer usar bermudas: é só você migrar para uma igreja Batista (ou tantas outras que aceitam). Não pára por aí: se você é homossexual e quer ser crente e casar na igreja você também tem o seu lugar, é só migrar pra igreja contemporânea ou outra, são várias que aceitam...
O mercado é competitivo e cada um com seus costumes, tradições e formas de entender a mesma bíblia e servir ao mesmo Deus. A disputa é pra dizer “quem está com a verdade”. E quem está? Quem tem coragem de afirmar que sua interpretação é verdadeira? E se todos estão com a verdade, ela não se torna relativa? E pior ainda, podemos ter certeza da verdade? Quem afirma ter a interpretação verdadeira, hoje, se torna arrogante3.
Mas o que o cristianismo em comum tem feito pra não perder seus clientes? O missiólogo René Padilla disse que: “Num mercado de ‘livres consumidores’ de religião, em que a igreja não tem a possibilidade de manter o monopólio, o cristianismo cultura4 adotou o recurso de reduzir sua mensagem ao mínimo, para tornar possível que todos os homens queiram ser cristãos. O evangelho assim se converte numa mercadoria cuja aquisição garante ao consumidor a posse dos valores mais altos: o êxito na vida e felicidade pessoal agora e sempre5”.
Para ganhar o maior número possível de adeptos, não basta ao cristianismo de supermercado fazer do evangelho um produto econômico. Necessita-se que ele seja distribuído entre o maior número possível de consumidores de religião. Vem daí a necessidade de se fazer métodos ‘eficientes’ como G12, R12, Princípio de Unidade Homogênea, Guerra Espiritual e etc. e, para isso, o século XX lhe providenciou um instrumento ideal: Tecnologia.
Hoje, infelizmente, já existem cultos on-line, redes de televisão e programas evangelicos6. O engraçado é ver aquelas denominações que antes proibiam ocupando a maior parte da manhã de sábado na Rede Tv7, pastores fazendo propagandas de um tal de cruzeiro evangélico. Será que perceberam que podem manter o status burguês e ser cristão ao mesmo tempo? É triste ligar a TV e se deparar com um programa da espécie de Ídolos (Programa exibido no SBT Record ), porém Gospel, na Tv Rit; as campanhas da igreja Universal do Reino de Deus e o Miss. R.R. Soares o dia inteiro na “telinha”. Quantos programas ruins e de péssima qualidade!
A imagem que esses programas e propagandas querem passar é de um cristão, homem de negócios, próspero, que encontrou a fórmula da felicidade, e que quer compartilhar com outros gratuitamente.
O ato de “aceitar a Cristo” é o meio para alcançar o ideal ‘boa vida’ sem custo algum. Mas qual o problema de usar a tecnologia a serviço do Reino e de se ter mais cristãos no mundo? Nenhum! A tecnologia e o dinheiro são neutros e “Deus deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade8”. “O problema do cristianismo de supermercado, como nos mostrou René Padilla9, reside em sua equiparação do triunfo de Cristo com o crescimento quantitativo das conversões. Trata-se de um cristianismo antropocêntrico que reflete claramente o condicionamento da mentalidade tecnológica (...).” Uma manipulação do evangelho para obter êxito que conduz a uma escravização ao mundo e seus poderes10“.
Citações
1. Alencar. P. 113.
2. As religiões se assumem como as verdadeiras, portanto, condenam a migração. O problema se torna ainda maior quando acontece no caso da igreja. Já foram inventados vários apelidos para as pessoas que fazem tal mudança, “crente macaco que fica pulando de galho em galho” por exemplo. A pregação proselitista é outra arma contra a migração eclesiástica.
3. Os evangelhos contém palavras afirmativas quanto à verdade, ver JO. 14. 6.
4. Referência ao American Way of Life. Movimento que confundiu o estilo de vida norte-americana com a vida cristã. Entenderam que ser americano é o mesmo que ser cristão.
5. RenéPadilla. P.29
6. A televisão há pouco tempo era coisa do diabo. Ainda existem igrejas que proíbem o uso da televisão aos seus membros. Geralmente igrejas do interior, na zona rural. Pois lá se conserva a tradição e seus membros são, talvez, em sua maioria, gente que foi educada, na igreja, ouvindo que era pecado assistir televisão. A conversão desses significa uma ruptura com as coisas do mundo (como maquiagem, música secular, futebol, e etc).
7. Referência a Igreja Assembléia de Deus, que mantém um programa de divulgação apresentando livros da editora CPAD (Casa Publicadora Das Assembléias De Deus) na Rede Tv. Conheço igrejas da Assembléia que ainda condenam o uso da TV. O pecado se tornou um meio eficiente para divulgar o evangelho? Parece que sim, mas isso cheira Hipocrisia. O programa tem mesmo é um fim lucrativo, a pregação é um pretexto, muitas das vezes, para apresentar ao público o escritor do novo best-seller ou líder da igreja.
8. 1Tm. 2.4
9. René Padilla. P.30
10. Idem. P. 31
update: 16/01/2010 hr. 03:16